quarta-feira, 9 de julho de 2014

A História de um País que um dia teve um sonho...

Era uma vez, num país enorme, num dos quatro cantos do mundo, onde havia um povo muito sofrido, mas que tudo aceitava, sempre rindo das suas próprias desgraças.
Esse povo era passivo, brincalhão, trabalhador, que, mesmo com todos os problemas que tinha, ainda aceitava e procurava ajudar aos povos de outros países, quando esses tinham algum problema sério, normalmente, provocados por catástrofes da natureza.
Naquele enorme país essas catástrofes naturais não existiam com tanta intensidade, era um país, realmente, abençoado, tinha muito samba, muita festa e muito, mas muito futebol...
O povo era tão passivo que, mesmo que o governo o pisoteasse, ele ainda achava que estava tudo certo, que ele teria que trabalhar mais para conseguir pagar a quantidade de impostos que, segundo o governo, eram necessários para que pudessem resolver os problemas do povo, como saúde, segurança, educação e, o pacato povo, continuava a pagar o “soldo” para poder viver.
Um dia, certo governo resolveu que faria uma festa mundial de futebol – essa festa seria num ano de eleição para presidir aquele país - e foram feitos diversos acordos, foram feitas diversas reuniões e, o povo, o pobre povo, só ficou sabendo que haveria um Mundial do Futebol em seu país.
Como a maioria da população daquele país era crédula e sem muita cultura, acreditou que seria muito bom para o país, porque os turistas iriam conhecer aquele país maravilhoso e trariam recursos para serem investidos nas áreas que ele mais precisava.
O que eles não conseguiam perceber é que, para que isso tudo acontecesse, haveria necessidade de haver gastos, pois o país, mesmo do tamanho que era, não tinha uma estrutura para um evento desse porte. Quantas pessoas naquele país disseram que não era possível, quantas pessoas se indignaram por saber que tudo aquilo não adiantaria para trazer o retorno dos gastos que se fariam necessários para a construção de “Campos de Futebol Estruturados”, tudo isso, muitos sabiam, faria com que o país fosse visto de forma diferente no exterior, mas o povo estaria pagando mais por isso.
Então, após os acordos necessários para a realização daquele evento, começaram a se fazer projetos para estruturar os Estádios com o Padrão exigido pela Federação Internacional de Futebol, porque tinham que ser feitos com uma excelente qualidade e com beleza.
E o povo foi assistindo aos problemas e ficando com medo das consequências daquele Mundial, porque, com o governo concentrando todas as suas forças sobre essas obras, o povo ficou à míngua com relação à saúde, os postos e hospitais ficaram sem medicamentos, não sem médicos, mas o governo deu uma disfarçada e quis contratar médicos estrangeiros, dizendo que os médicos daquele país é que não trabalhavam direito, uma parte daquele povo que, como eu já disse, era inculto, aceitou as explicações absurdas daqueles governantes e chegaram muitos médicos estrangeiros, mas nada mudou, o povo ainda não tinha o medicamento, porque o governo não tinha como investir nisso, tinha obras mais complexas sendo realizadas e com urgência.
Aquele era o chamado “País do Futebol”, então, vivam o futebol e esqueçam os problemas e foi o que aconteceu.
Muitos e muitos bilhões de gastos depois, o Mundial do Futebol chegou, o povo começou a gastar com compra de televisores, com roupas nas cores de sua bandeira, com os símbolos daquele mundial e não conseguia perceber a realidade daquele momento, os problemas ficaram para trás.
Começaram a acontecer problemas com obras mal feitas, por terem sido construídas às pressas, problemas com o dinheiro e com a segurança, o país parecia que estava a ponto de sofrer sua primeira catástrofe, mais perigosa ainda do que as da natureza, mas catástrofes humanas, com insegurança, qualquer manifestação pacífica daqueles que sabiam o que estava acontecendo, virava em tumulto, daí a preocupação com as pessoas que estariam visitando aquele lindo país, o chamado “Celeiro do Mundo”.
E foi assim que se viram algumas mortes nas construções dos Estádios, mortes nas quedas de viadutos construídos às pressas, mas nada disso tinha importância, porque era preciso para a tal Copa do Mundo, então, se passava por cima dos problemas mais sérios, para se viver a alegria daquele evento que, de algum modo, fez uma lavagem cerebral na maioria daquele povo.
Até que, um dia, num dos jogos um dos seus jogadores, julgado o melhor do mundo, foi machucado por outro jogador, então, foi uma manifestação geral, coitado dele, fraturou uma vértebra, mas ninguém pensou nos que morreram naqueles desastres das obras mal feitas, ninguém se preocupava, a não ser com o futebol e o que aconteceria sem o seu principal jogador.
E, aconteceu, uma derrota vergonhosa e o povo chorou muito, crianças choraram muito, mas aconteceu e daí, como por encanto, acabou o sonho do povo e ele acordou, percebeu, então, que esteve vivendo como autômato, dominado por uma corrente de vibração que não era normal, aquele povo acordou e se lembrou que, as eleições estavam próximas e que, agora, iria mudar o rumo daquele país, porque percebeu que tinha sido manipulado e quem, realmente, estava ganhando para dar o seu melhor, não fez por merecer todo o empenho daquele povo que só queria ser feliz naquele ano.
Agora, rumo às urnas, o povo irá mostrar sua revolta e votar pela saúde, pela segurança, pela educação, por seus direitos e sua paz. (Cida Trindade)